domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desmetria de lembrança

O andar elegante de uma lavadeira
branca e preta
lança voz nos raiares.
anuncia mais uma imensidão que o sol incendeia.
Dores que se esvaem em dias de calmaria
Nuvens negras que,
de quando em vez,
trazem chuvas de verão.
Pingos doces
transbordam eminências de choros contidos


Marisqueiras chafurdam a terra mole,
lama preta,
encontrando o que sustenta a vida.
Fundo buracos a procura de lembranças.
Diante delas,
por frações,
pequena estive.
Essa inocência que reprocuro
está ao fim dos caminhos que o tempo apaga a rota
Amanhã o sol brilhou.
Nesse recanto a paz silencia a dor da menina que não pode voltar
a ser-se.

Lembranças vivas de ti Itapema
O passar por entre tua varanda larga e o mar
Sorrisos e acenos corriam ao portão.
Pegar sereno no balançar da rede
Comer pescado fresco, bem temperado
Ter o luar estrelado lumiando o penar escuro da noite a varar.
Ouvir o aguaceiro bater na porta
Entender o que o som das ondas têm a dizer,
Grumichamando o roxo travo gosto da infância.
Azulejos que ruminam passado


Hoje não há o amarelo florescer de seu portão
Te encontrei cinza como o cabelo dos amados anciões que refugiam nessa casa imensa o vasto vazio de suas solidões.
A dor da velhice impregnou-se na minha melhor idade.
Sinto meus ossos cansados.
A maré avançou e não há areia,
o caminho que era de felicidade tornou-se estreito
como ela.

Aqui com a claridade de estar só nesse quarto molho de palavras os lençóis dessa cama que, por anos, sentiu seus corpos se acalentarem. Dormidouro que me refugiei entre seu matrimonio para fugir dos medos e sentir o calor de uma estrutura sólida.

Volto à selvageria da realidade renovada por banhar-me nessas águas quentes e recôncavas, por banhar-me em lembranças.

3 comentários:

  1. Já sigo essa Casa da palavra há algum tempo. Lágrimas minhas já rolaram aqui. Adorei todos os textos e poemas, você escreve com profundidade. Vejo agora, nesse, a praia da minha infância sendo belamente homenageada.
    Um beijo!

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  2. É, Alana, eu não imaginava que você tinha um blog, nem que escrevia com tal qualidade - ruminando ausências. Estou positivamente surpreso. Veio-me, ao ler esse poema,"eu me lembro dos meus rios em mim mesma mergulhada; águas que movem moinhos nunca são águas passadas."

    Beijo,
    mR.

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