domingo, 23 de setembro de 2012



A cadeira 01 do João Gilberto
O peito aberto
ao vento que

 passam seus cabelos
uma árvore velha que a noite balança

                        o olho o 
acompanha
como uma folha que se desprende

abro um livro, a folha seca

             ~~~                                ~~~

entre tantos outros
lê-lo é um mistério.

quarta-feira, 28 de março de 2012

28-03-2012

mil Flôr .és. ser
millôr

domingo, 10 de abril de 2011

Fogueira

É por ter o corpo quente
que ao despertar da chama, incendeio.
Ao fogo deve dar-se a lenha.

Veio-me com a sobra da noite
A lua desenhava teu contorno
Os raios tocaram-te pouco a pouco
Revelando o teu traço
Os músculos sobressaltados
O olhar em um doce cintilar marrom.
Esquivo e suave como um gato
Deixastes pêlos em meus trapos.

O vento sobre os dias nos dispersa
E no mesmo fulgor do despertar
a chama adormece.

quarta-feira, 17 de março de 2010

folguedo trajeto


Vivo em prisão hermética.
A transparência da plasticidade que me cobre
deixa-me ver felicidades se (des)fazerem.
Tenho em mim um colorido pardo
circular contorno
Preservo-me guardada a espera
de outrem-
demora a vir

Mãos suadas libertam-me em um rasgo
agarram-me com punhos fechados
Lançada ao vento.
Em tentativa de tocar o céu
a gravidade me remete ao chão,
Nesse declínio pelo ar
pairo junto serpentinas.
Olhares me fitam
Ouço,
Um canto louco
Toco corpos em frenesi.
Minha multiplicidade se espalha
pelo inebriar
Embriaguez.
No carnavalesco momento
trago minha felicidade fugaz

Confete se repete
Se repele o triste
O Carnaval insiste
Em pôr máscara fosca

Tiro a fantasia-
em sonho,

Nua e plena.

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Desmetria de lembrança

O andar elegante de uma lavadeira
branca e preta
lança voz nos raiares.
anuncia mais uma imensidão que o sol incendeia.
Dores que se esvaem em dias de calmaria
Nuvens negras que,
de quando em vez,
trazem chuvas de verão.
Pingos doces
transbordam eminências de choros contidos


Marisqueiras chafurdam a terra mole,
lama preta,
encontrando o que sustenta a vida.
Fundo buracos a procura de lembranças.
Diante delas,
por frações,
pequena estive.
Essa inocência que reprocuro
está ao fim dos caminhos que o tempo apaga a rota
Amanhã o sol brilhou.
Nesse recanto a paz silencia a dor da menina que não pode voltar
a ser-se.

Lembranças vivas de ti Itapema
O passar por entre tua varanda larga e o mar
Sorrisos e acenos corriam ao portão.
Pegar sereno no balançar da rede
Comer pescado fresco, bem temperado
Ter o luar estrelado lumiando o penar escuro da noite a varar.
Ouvir o aguaceiro bater na porta
Entender o que o som das ondas têm a dizer,
Grumichamando o roxo travo gosto da infância.
Azulejos que ruminam passado


Hoje não há o amarelo florescer de seu portão
Te encontrei cinza como o cabelo dos amados anciões que refugiam nessa casa imensa o vasto vazio de suas solidões.
A dor da velhice impregnou-se na minha melhor idade.
Sinto meus ossos cansados.
A maré avançou e não há areia,
o caminho que era de felicidade tornou-se estreito
como ela.

Aqui com a claridade de estar só nesse quarto molho de palavras os lençóis dessa cama que, por anos, sentiu seus corpos se acalentarem. Dormidouro que me refugiei entre seu matrimonio para fugir dos medos e sentir o calor de uma estrutura sólida.

Volto à selvageria da realidade renovada por banhar-me nessas águas quentes e recôncavas, por banhar-me em lembranças.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Um tango só.



A ingestão demasiada de café pouco influenciou na amargura que se fez escorrer sobre seu coração. Quanto menos sementes brotavam em seu interior mais desabrochavam pétalas de uma beleza profana.
Colocou o vestido que possuía o negro dos seus olhos, tecido fino. Deslizava pelas curvas do corpo como as mãos sedosas de um apaixonado ao tocar a amada. Tinha colo e pernas a mostra.
Ela sabia que os homens preferem o insinuar de um corpo a tê-lo, a primeira vista, seminu diante deles. Mas todo o mistério que precisava para fazer em parafusos a imaginação de um indivíduo estava em seu olhar.
Tirou o tango dentro d’alma, o pôs em um disco a tocar.
Lavou o rosto para entorpecê-lo do pó que camufla sua inocência repreendida, alongou os cílios tornando-os mais negros, linhas inclinadas pintadas com um rubro levemente rosado tornaram longínquo o seu rosto, salientou as sobrancelhas arqueadas com um tom claro nas pálpebras. Não colocou o batom das meretrizes em sua boca de farta carne molhada, julgou ser uma provocação além da intencional.
Sem a necessidade de ver o tempo passar pôs no pulso esquerdo apenas alguns fios dourados que combinavam com seus brincos e anel de pedra vermelha. Aumentou sua estatura alguns centímetros, salto fino, agulha que muitos homens desejam ter perfurando o peito.
Não há melhor sonoridade que a exprima nesse momento: violino, celo e piano urram dores e angústias emaranhadas no peito, traduzindo a sensualidade à flor da pele. As insinuações dos movimentos corporais, os quase beijos, os olhares que atravessam a alma e o fim trágico de duas confluências que não chegaram a se encontrar.
Amigo, o tango chora. Ser arrebatado por um, em uma noite escura como essa, é como lançar-se em maré de ondas espinhosas que reabrem feridas e salgam a pele em ardor incurável.
Sentou-se frente ao espelho e cruzou as pernas em uma breve revelação do seu pano intimo. Levou o cigarro à boca para se impregnar com seu cheiro, mirou-se com a certeza de atrair os olhares desejosos de todos os indivíduos que usassem calças e o despeito das pudicas. Estava convencida da fatalidade inerente ao seu ser- o pensamento repousou em quem, há pouco, quis matar de amor.
Borrifou o cheiro de amêndoas atrás das orelhas, pescoço, colo, pulso e braços. Saiu às ruas fazendo par ao negro vazio que a noite tem. Maltratou o coração de muitos com as garras ferinas da sedução, pobres meninos que não tem culpa do seu desamor. Quanto mais bela é tua casca mais podridão há em teu fruto. Não semeastes nada e esperas o florescer? Chuvas te renovarão, o sol ainda há de esquentar tua face e só. Iras criar raízes ocas pela tua falta de passos.
Ruminas o teu penar a cada pegada, refletes as vielas sujas e solitárias, aportando teu naufrágio em cada esquina. Menina, volta.
“A luz do cabaré
Já se apagou em mim
O tango na vitrola
Também chegou ao fim
Parece me dizer
Que a noite envelheceu
Que é hora de lembrar
E de chorar”

domingo, 31 de janeiro de 2010

Te ninar.

As tristezas das tardes de domingo se fizeram mais uma vez. O vento insistente em trepidar pelas frestas- que por anos tocaram minhas costas- continuam a ter o conforto frio da solidão.
Observo o teu dormir trucado e relembro as noites que procurei em teus braços abrigo. Casa de taipa de estrutura firme e sólida. Argila moldada com caricias de seu amor oceano, cascalhos poucos para o passar de tantos anos. Meu lar simplório que sempre encontrei após o ruir das correntezas, enormes pés rachados por tê-los na terra constantemente. Tua menina cresceu, junto com minhas asas chegaram as tuas: Voemos.
Choro sem pertubar o teu sono, penso que em poucas fases da lua não terei o prazer de te encontrar em sonambulismos famintos, sei que teus braços de manjedoura não estarão no quarto ao lado.
Ví a capa que tens por ser um super homem caí. Olhei pra teu rosto e te vi homem que sente e amargura mágoas como eu.

Que sonhes com a liberdade, ó pai.

...